31 de março de 2016

Conversa fiada com Joanna Moura do UASZ




Estivemos à conversa com a adorável blogger Brasileira Joanna Moura (autoproclamada Jojo), autora do Um ano sem Zara (UASZ). O blog surgiu em Março de 2011, através de um grande desafio que tinha como objectivo passar um ano inteiro (e ainda para mais parte de um ano bissexto, porque um dia faz toda a diferença) sem comprar qualquer peça de roupa ou acessório, produzindo looks diários que eram, depois, partilhados com os seus leitores.

A questão é que as fatiotas só podiam mesmo ser compostas com material do próprio roupeiro, sem cair no marasmo da t-shirt básica e na repetição diária das calças de ganga (este é o momento em que começam a hiperventilar perante a possibilidade de não comprar absolutamente nada, nem um top inofensivo num passeio casual pelo centro comercial).


Em última instância, o win-win do desafio foi mesmo a regularização da conta bancária da Joanna que estava severamente ressentida de tantas compras por impulso! Por acréscimo, a autora descobriu mil e um truques para que um vestido possa ter tripla personalidade (como vestido, saia ou top) e, de um modo geral, como um olhar mais criativo pode transformar as peças de sempre em conjuntos inteiramente novos.

Depois de terminado o desafio, o UASZ cresceu (estando neste momento a dar o ar da sua graça em cosmética e decoração, por exemplo) e a Jojo mudou-se para São Francisco mas não sem antes ter aparecido em redes sociais, jornais, televisão e blogs internacionais, recrutando uma impressionante legião de seguidores.

Assim, é com níveis de felicidade dignos de uma adolescente em lágrimas ao lado do Justin Bieber, que partilhamos convosco a entrevista a esta blogger que nos é tão querida.


Inspiracionistas - Temos de começar pela pergunta óbvia. Porquê Um Ano Sem Zara? Porque não Um Ano Sem C&A, por exemplo? 

Jojo - Eu sempre gostei muito da Zara. Era uma loja que tinha muito a ver com o meu estilo e eu sempre gostei dessa coisa meio self service de conseguir passear pela loja sozinha, olhar as coisas com calma. Tanto que entrar na Zara virou quase um passatempo p'ra mim. Eu trabalhava perto de um shopping e, todo dia, depois de almoçar, dava uma passada na loja p'ra ver as novidades. Entrava sem a menor pretensão de comprar nada, só p'ra olhar mesmo. Mas, mesmo sem a intenção de gastar, vira e mexe, eu encontrava alguma coisa e acabava cedendo à tentação. E daí que veio o nome do blog. A ideia era justamente quebrar esse hábito de comprar por impulso, sem necessidade, e a Zara p'ra mim era o símbolo máximo disso.


Look escolhido pela Jojo para o dia  366 do desafio que deu o nome ao blog

Inspiracionistas - O Um Ano Sem Zara começou por ser um blog direccionado para a moda e para o street style. De que forma adaptaste o teu roupeiro, que estava direccionado para o clima brasileiro, a um clima como o de São Francisco que é mais temperado, à semelhança do clima Português? Que peças "chave" deste teu novo roupeiro sugeririas às Portuguesas (buço e lenço na cabeça não conta - só se for em homenagem à Frida Khalo ou lenço em forma de turbante).

Jojo - A mudança para São Francisco foi um desafio, sem dúvida. Primeiro porque eu não podia trazer tudo o que tinha no Brasil. O meu limite era de três malas e foi isso que eu trouxe. Parece bastante espaço, mas pense em colocar o seu armário inteiro em três malas. Bolsas, sapatos, roupas, casacos, acessórios, tudo em três malas. É um espaço limitado. 

Então tive que fazer escolhas. Fiz uma análise bem realista do que eu realmente usava e do que praticamente não entrava no meu dia a dia. E, lógico, dei preferência a peças que condiziam com o clima mais temperado. Mesmo assim, quando cheguei aqui comprei uma coisa ou outra p'ra conseguir lidar melhor com o frio.

Acho que depois de um ano morando na cidade eu aprendi a sempre usar camadas. O clima aqui é meio maluco. Durante o dia a temperatura pode variar muito, então as camadas me ajudam a estar sempre preparada, p'ro frio ou p'ro calor.


Conjunto que incorpora animal print e capa, facilmente adaptável ao Outono português, no qual a Joanna usou aos sapatos do seu casamento


Inspiracionistas - Numa era em que vale tudo no mundo da moda, quais as estampas (padrões, aqui para nós) que jamais combinarias?

Jojo - Eu realmente acho que vale tudo na moda. Acredito que moda é auto-expressão e que não é meu papel proibir. Cada pessoa tem o seu estilo, cada pessoa tem direito de se expressar da forma como quiser. E experimentar faz parte do processo de se auto-descobrir, de encontrar o seu próprio estilo. Errar e acertar e entender o que é bonito p'ra você. 


Sugestão da blogger para uma ousada mistura de padrões

  
Inspiracionistas - Tens vindo progressivamente a preconizar um modo de vida mais sustentável, promovendo produtos também sustentáveis, locais e cruelty-free. No entanto, pelo menos em Portugal, marcas nacionais, sustentáveis e cruelty-free têm, muitas vezes, custos acrescidos. Isto verifica-se a nível têxtil, cosmético e alimentar. De que forma fazes esta gestão sem ir à falência ou recorrer ao cartão de crédito?

Jojo - Acho que aqui precisamos olhar de um ponto de vista diferente. Não é o produto sustentável que tem um custo alto. É o produto não sustentável que tem um custo injustamente baixo. Isso acontece porque usar mão de obra escrava, poluir e testar em animais sai mais barato para a indústria. Mas sabemos que o custo disso tudo é alto, p'ro planeta e p'ras pessoas. É o custo da exploração alheia.

Dar condições saudáveis de trabalho para funcionários, usar processos de produção ecologicamente correctos, não testar em animais, tudo isso sai mais caro, sim. Mas é o justo. 

Por isso, cada vez mais tenho tentado comprar menos e melhor. Ainda não me livrei totalmente das fast fashion, mas tenho procurado cada vez mais encontrar alternativas locais e que condizem com os meus valores.

  
Joanna Moura em São Francisco com turbante Kimonaria, óculos Zara e casaco Forever 21


Inspiracionistas - Nos últimos anos, milhares de jovens têm saído de Portugal para ter mais oportunidades de sucesso. Sendo alguém que recentemente mudou de país, que dicas poderias dar para transformar uma casa num lar (sem viver num showroom Ikea), tendo em conta que pode ser algo com horizonte temporal limitado?

Jojo - Metade da minha casa aqui nos EUA é de móveis usados. Desde coisas que compramos em feiras de antiguidades até coisas que achamos na rua (muitas pessoas aqui tem o hábito de deixar móveis que não querem mais na calçada p'ra que outras pessoas possam levar p'ra casa).

Eu adoro móveis usados porque acho que dão muita personalidade p'ra casa e, justamente, não dão essa sensação de showroom

Outra coisa que amo é usar plantas na decoração. Acho que dá muita vida p'ra casa e traz uma energia boa.


O cantinho preferido da autora na sua nova casa em São Francisco

  
Inspiracionistas - Toda a gente quer aparecer no seu melhor quando faz uma viagem (até porque vão haver fotos). Mas, frequentemente, o espaço de bagagem é limitado. Como sugeres que se contorne esta dificuldade (espaço limitado - looks para lembrar)?

Jojo - A minha técnica p'ra fazer mala é simples: levo praticamente tudo dentro da mesma paleta de cores. Já fiz malas inteiras de peças azuis e brancas. Ou pretas e cinzas. Isso facilita muito na hora de escolher que peças levar e na hora de combinar as peças entre si durante a viagem.


Joanna Moura numa viagem a Barcelona corria o ano de 2014

Um Ano sem Zara é muito mais do que um blog de moda. De facto, é sobretudo uma óptima demonstração, quanto a nós, daquilo que a moda pode constituir: um veículo social, com um âmbito muito para além do estético e do efémero. Tal como no passado ajudou a quebrar tabus e preconceitos pode, hoje, preconizar os valores correctos de durabilidade - mãos a mãos com a intemporalidade - e de justiça e respeito pelo meio em que estamos inseridos.

Se tudo isto for feito com uma escrita fresca e honesta, que consegue colocar-nos um sorriso no rosto ou fazer-nos questionar lugares comuns, ainda melhor (e se soa a clube de fãs, é porque é).


Todas as fotografias utilizadas neste post são © Copyright – 2015 UASZ. Todos os Direitos Reservados.

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